No dia 17 de julho, a Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei 2159/2021, com 267 votos favoráveis e 116 votos contrários. Apelidado por especialistas e ativistas como PL da Devastação, o texto reacendeu as discussões sobre sustentabilidade no Brasil, que já estavam acaloradas desde maio deste ano, quando o PL tramitou no Senado. A proposta flexibiliza o licenciamento ambiental no país e pode abrir caminho para mais desmatamentos e impactos em áreas sensíveis, como a Amazônia e o Cerrado. De acordo com a SOS Mata Atlântica, a decisão retira garantias históricas de proteção, ameaçando diretamente os 24% da cobertura original desse bioma, especialmente os 12% restantes de florestas maduras. O texto seguiu para a sanção presidencial e tem gerado mobilizações em todo o território nacional.
Apesar do cenário político controverso, um movimento silencioso e transformador segue crescendo: o das green techs, ou tecnologias verdes. Elas representam uma resposta prática e adaptável aos desafios ambientais que enfrentamos, combinando inovação com impacto positivo. Mas, antes de mostrar quais são as 5 tecnologias verdes que estão transformando o Brasil, vamos entender um pouco mais sobre o conceito.
O que são green techs — e por que o mundo está de olho nelas?
As green technologies são soluções tecnológicas criadas para reduzir o impacto ambiental, promover eficiência energética e apoiar a transição de setores para uma economia de baixo carbono. No exterior, esse conceito já é tratado como prioridade. Países como Alemanha, Estados Unidos e China investem bilhões em inovação verde, tanto em políticas públicas quanto em incentivos ao setor privado.
Na Europa, por exemplo, o Pacto Verde Europeu (European Green Deal) estabeleceu metas ambiciosas de neutralidade de carbono até 2050, impulsionando startups e empresas de tecnologia a desenvolverem soluções mais sustentáveis. No Brasil, apesar dos desafios políticos, o ecossistema de inovação verde está florescendo — e mostra que é possível promover o desenvolvimento econômico sem renunciar à preservação ambiental.
Tecnologias verdes que estão transformando o Brasil
Florestas tropicais, grandes reservas de água doce e alta incidência solar fazem do Brasil uma das maiores potências mundiais para o desenvolvimento e a aplicação de tecnologias verdes. Nosso país abriga cerca de 20% da biodiversidade do planeta e está no centro das negociações climáticas globais, além de contar com vocação para inovar no agro, com soluções de economia de água, uso de IA no plantio e produção de bioinsumos.
Todos esses fatores atraem investimentos internacionais, contribuindo para projetos de cooperação e criação de fundos de financiamento para green techs. A seguir, você vai conferir 5 inovações tecnológicas que estão contribuindo para o avanço sustentável no país, mesmo em meio a incertezas políticas.
1. Energias renováveis
O Brasil é um dos países com maior potencial de geração solar do mundo. Não é à toa que o uso dessa fonte de energia limpa teve um grande salto nas últimas décadas. Atualmente, o Brasil ocupa a 6ª posição no ranking mundial de produção de energia solar. No final de 2024, o Ministério de Minas e Energia celebrou a conquista histórica de 50 gigawatts de capacidade instalada, considerando tanto geração distribuída quanto geração centralizada. O número representa quase 21% da matriz elétrica brasileira, segundo a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar).
A geração distribuída, composta por sistemas residenciais, comerciais e industriais, representa a maior parte da capacidade instalada, com 33,5 GW. Tamanha adesão se deve à facilidade de acesso na qual startups e iniciativas locais têm promovido, até porque, a energia solar reduz custos, emissões de carbono e dependência de fontes poluentes.
O crescimento dos parques eólicos, especialmente no Nordeste, também tem contribuído para o desenvolvimento sustentável do país. Projetos como o Parque Eólico Lagoa dos Ventos, no Piauí, são exemplos do avanço da energia eólica. Juntas, essas fontes de energia renovável têm reduzido a dependência de fontes fósseis e as emissões de gases de efeito estufa.
2. Agricultura regenerativa com sensores e inteligência artificial
A combinação de drones, sensores, dados climáticos, mapeamento de lavouras e inteligência artificial tem revolucionado o campo, mostrando que o agro pode ser mais tecnológico e sustentável. Além das inovações que permitem irrigação mais eficiente, o setor já conta com muitas soluções de redução do uso de insumos químicos e práticas que favorecem a regeneração do solo — contribuindo para uma produção mais limpa e resiliente às mudanças climáticas.
A AgroBee, uma startup agrotech que compõe a carteira de clientes da CodeBit, tem investido em inovação no campo com uma IA que detecta a maturação do café com 97% de precisão, ajudando produtores a prever a produtividade do cafezal antes mesmo da colheita. Além de analisar grande volume de dados das lavouras, essa IA, que ainda segue em desenvolvimento, também permitirá identificar demandas locais da plantação, otimizando o uso de insumos, recursos hídricos e até defensivos.
Práticas como o plantio direto, integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) e o manejo de resíduos agrícolas também estão desempenhando um papel fundamental para a agricultura de baixo carbono e precisão.
3. Biotecnologia na purificação da água e reaproveitamento de resíduos
As enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul em 2024, deixando milhares de pessoas sem acesso à água potável, escancararam a necessidade de tecnologias rápidas e eficientes para tratamento e purificação da água. Desde então, soluções portáteis e escaláveis, como filtros de membrana, sistemas UV e estações móveis de purificação, vêm ganhando espaço em projetos públicos de saneamento.
Além disso, tecnologias de reaproveitamento de resíduos — como biodigestores para geração de energia a partir de matéria orgânica — têm sido aplicadas com mais frequência, sobretudo em áreas rurais e comunidades afastadas de centros urbanos. Essas soluções contribuem para reduzir o volume de lixo, evitar a contaminação de solos e águas, e ainda gerar recursos energéticos renováveis.
Esse movimento mostra como a inovação pode (e deve) estar a serviço da resiliência ambiental e da adaptação às mudanças climáticas que já estão em curso.
4. Monitoramento ambiental com satélites e inteligência de dados
Ferramentas como o MapBiomas, desenvolvido em parceria com universidades, ONGs e institutos de pesquisa, usam dados públicos e inteligência artificial para mapear o uso da terra e detectar áreas de desmatamento. O sistema complementa os dados do Deter e do Prodes, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), essenciais para ações de fiscalização e políticas públicas ambientais.
Quando o assunto é monitoramento e manejo florestal, a tecnologia também tem se destacado, sendo uma aliada poderosa na proteção da Amazônia e de outras florestas brasileiras. É aí que o uso de nanossatélites e sistemas de sensoriamento remoto entra em cena, permitindo o monitoramento de grandes áreas, detectando desmatamento e incêndios de forma mais rápida e precisa. Além disso, a aplicação de geotecnologias e sistemas de informação geográfica (SIG) auxilia no planejamento e na execução de planos de manejo florestal sustentável, garantindo a exploração responsável dos recursos naturais.
5. Biocombustíveis e biotecnologia
O Brasil é líder global na produção de biocombustíveis, como o etanol de cana-de-açúcar, há mais de três décadas. Dados da União da Indústria de Cana-de-açúcar e Bioenergia (UNICA) revelam que, em 2024, o país exportou 35,2 milhões de toneladas para 145 países. Isso representa mais de 50% do comércio global, mantendo o país como principal exportador mundial do ativo.
A constante inovação em biotecnologia tem aprimorado a eficiência da produção desses combustíveis, buscando fontes alternativas e mais sustentáveis, como o etanol de segunda geração (2G), que utiliza resíduos da própria cana, e o etanol de milho. Além disso, a biotecnologia é aplicada no desenvolvimento de culturas mais resistentes e produtivas, reduzindo a necessidade de agrotóxicos e otimizando o uso do solo.
Portanto, diante de propostas que ameaçam o futuro ambiental do país, como o PL da Devastação, é fundamental reforçar que tecnologia e sustentabilidade caminham lado a lado. Assim, as inovações públicas e privadas, nacionais e internacionais, são fundamentais para as próximas gerações. Investir em green tech é investir no futuro. E esse futuro pode — e deve — ser mais verde, limpo e justo para todos, seja no Brasil ou em qualquer outro lugar do mundo.