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Tecnologia

Amazon lança óculos inteligentes para entregadores

Um protótipo pensado para logística traz um novo ponto de vista para o uso dos óculos inteligentes

Postado em 03/12/2025

Leonardo Fróes

A Amazon apresentou um protótipo de óculos inteligentes desenvolvido exclusivamente para seus entregadores parceiros: um dispositivo projetado para tornar o processo de entrega mais rápido, seguro e menos dependente do smartphone. O modelo está em teste nos Estados Unidos e combina visão computacional, inteligência artificial e funções estratégicas; exibindo mapas, alertas e orientações diretamente no campo de visão do entregador.

Com isso, a empresa inaugura o uso de óculos inteligentes em operações de grande escala, sinalizando um avanço concreto na adoção de tecnologias vestíveis no setor logístico. O movimento ocorre em um cenário em que Apple, Samsung e Meta também aceleram seus projetos de realidade mista, ampliando a competição por novos formatos de computação mobile.

Neste artigo, detalhamos como o equipamento funciona na prática, quais são os riscos, oportunidades e de que maneira essa novidade se conecta à corrida global pelos óculos que prometem substituir o smartphone.

Uma nova proposta para os óculos inteligentes

Desenvolvido a partir da observação direta das rotinas de entrega e do feedback de centenas de entregadores parceiros, o protótipo de óculos inteligentes da Amazon foi criado para simplificar tarefas operacionais e reduzir a dependência do celular. A proposta é permitir que o trabalhador mantenha as mãos livres e a atenção no ambiente, aumentando a eficiência e a segurança.

Em testes, os óculos exibem uma pequena tela no campo de visão (lado direito), mostram mapas, identificam pacotes dentro do veículo, alertam para riscos (por exemplo, a presença de um cachorro) e facilitam a confirmação da entrega. O equipamento funciona em conjunto com um colete que armazena dados e contém controles físicos, uma escolha prática indicada pelos próprios entregadores.

Como funciona na prática

O dispositivo foi projetado para integrar visão computacional, instruções operacionais e registro de dados em um fluxo contínuo. A lógica é diminuir etapas manuais, acelerar decisões e deixar o entregador focado no percurso. O processo funciona da seguinte forma:

  • Ativação automática: ao estacionar no ponto de entrega, o sistema sincroniza veículo, colete e óculos, preparando o fluxo de trabalho sem comandos adicionais.

  • Localização de pacotes: a interface indica onde está o pacote correto dentro do baú, reduzindo tempo de busca e o risco de erros.

  • Navegação passo a passo: mapas e instruções surgem no campo de visão, organizando o trajeto e a sequência ideal de entregas.

  • Alertas de segurança: a visão computacional identifica riscos no entorno e emite avisos imediatos, como presença de animais ou obstáculos.

  • Registro por foto: o entregador utiliza o botão do colete para capturar imagens, que são enviadas automaticamente ao sistema. Nada de celular na mão.

  • Sincronização de dados: o colete atua como hub local, armazenando e transmitindo dados sempre que houver conexão disponível.

No conjunto, o design prioriza interações simples e confiáveis. Os controles físicos no colete substituem comandos constantes nos óculos, reduzindo esforço cognitivo e tornando o uso mais confortável em rotinas longas e repetitivas.

Benefícios esperados

O protótipo foi desenhado para gerar ganhos operacionais consideráveis, reduzindo etapas manuais e aumentando a previsibilidade do fluxo de entrega. Entre os principais benefícios esperados:

  • Mais agilidade por entrega: localizar pacotes e confirmar entregas sem recorrer ao celular reduz o tempo em cada parada.

  • Menos erros operacionais: a identificação automatizada ajuda a evitar trocas e inconsistências.

  • Segurança ampliada: mãos livres e alertas em tempo real diminuem distrações e fortalecem a atenção ao entorno.

  • Registro padronizado: fotos e dados capturados de forma uniforme melhoram auditorias, reembolsos e rastreabilidade.

Em centros urbanos com alto volume de rotas, pequenos ganhos em cada entrega se acumulam rapidamente, gerando impacto relevante em escala.

Questões trabalhistas, ergonomia e privacidade

Mesmo com ganhos operacionais evidentes, a adoção de óculos inteligentes em larga escala exige análise cuidadosa de impactos sobre trabalho, segurança e bem-estar. Entre os principais pontos de atenção:

  • Privacidade e monitoramento: dispositivos que capturam imagens e dados ampliam o alcance da supervisão. É fundamental definir limites claros: quais dados são coletados, por quanto tempo ficam armazenados, quem tem acesso e com qual finalidade.

  • Carga de trabalho e metas: eficiência adicional pode resultar em metas mais rígidas. A introdução da tecnologia precisa vir acompanhada de parâmetros que preservem saúde, ritmo de trabalho e jornada.

  • Aceitação e adesão dos trabalhadores: conforto, confiabilidade e percepção de benefício real determinam a adoção. Práticas de co-design ajudam, mas não substituem diálogo contínuo com quem opera na ponta.

  • Segurança cibernética: dispositivos conectados ampliam a superfície de ataque. Proteger fluxos de imagem, dados e integrações é essencial para evitar vulnerabilidades críticas.

Para a implementação ser sustentável, a tecnologia precisa vir acompanhada de políticas transparentes, avaliação de impacto, governança clara e participação ativa de parceiros e representantes de trabalhadores.

A corrida pelos óculos inteligentes definitivos

Enquanto a Amazon aposta em um dispositivo utilitário voltado exclusivamente para operações logísticas, o restante do mercado avança em direção a um modelo mais amplo de computação vestível. Apple (Vision Pro M5), Samsung (Galaxy XR) e Meta desenvolvem produtos voltados ao consumidor final, cada um buscando espaço no que pode se tornar o próximo formato dominante do pós-smartphone.

A distinção central está no propósito:

  • Amazon: óculos de trabalho, com foco em produtividade, continuidade operacional, durabilidade e integração direta ao fluxo logístico.

  • Apple / Samsung / Meta: headsets e óculos para uso geral — experiências imersivas, multimídia, produtividade pessoal e interações que começam a redesenhar a computação móvel.

Apesar de atenderem públicos diferentes, há convergência tecnológica. Sensores avançados, IA embarcada em tempo real, câmeras múltiplas e displays de alta densidade formam a base comum dessa nova geração de dispositivos. O mercado de consumo tende a acelerar a miniaturização e a redução de custos desses componentes, o que, a médio prazo, deve beneficiar soluções industriais como as da Amazon.

O resultado é um ciclo de inovação que retroalimenta os dois lados: o consumo empurra a tecnologia para frente; a aplicação profissional mostra onde ela realmente gera valor.

Saiba mais sobre esse cenário: Meta vs Apple: a corrida para o futuro do mobile

Avanço na logística e cidades inteligentes

A adoção ampla de óculos inteligentes tem potencial para alterar profundamente como entregas, mobilidade urbana e operações logísticas funcionam no dia a dia. Ao integrar sensores, IA e dados contextuais, esses dispositivos podem se tornar um novo ponto de apoio para decisões operacionais em tempo real.

Principais impactos possíveis:

  • Roteirização dinâmica: visão computacional combinada a dados de tráfego, clima e restrições locais pode ajustar rotas de forma contínua, otimizando percursos no nível de cada pacote.

  • Integração multimodal: entregas realizadas por motoristas, drones e lockers tendem a se coordenar via assistentes visuais, reduzindo falhas de sincronização.

  • Melhor experiência do cliente: confirmações visuais, localização mais precisa e menor chance de erro diminuem ocorrências e elevam a qualidade da entrega.

  • Frotas mais eficientes: menos tempo parado, menor taxa de devoluções e redução de incidentes contribuem diretamente para a produtividade.

Esse avanço, entretanto, depende de um ecossistema preparado: conectividade robusta, políticas claras de proteção de dados, manutenção contínua dos dispositivos e planejamento urbano que considere novas interações entre trabalhadores, veículos e pedestres. 

Leia também: Cidades Inteligentes no Brasil: avanços, desafios e oportunidades reais

Onde isso nos leva nos próximos anos

Nos próximos anos, a adoção de óculos inteligentes deve avançar por etapas, começando por testes controlados e evoluindo para operações maiores, conforme a tecnologia amadurece.

Curto prazo (1–2 anos):
Mais protótipos devem surgir, com foco em ajustar usabilidade, ergonomia e integração com sistemas de entrega. Sensores, visão computacional e modelos de IA também devem ficar mais robustos para lidar com condições reais de rua — clima, iluminação e ambientes movimentados.

Médio prazo (3–5 anos):
Se os testes mostrarem eficiência e boa aceitação dos trabalhadores, a tendência é de expansão. Isso inclui adoção por grandes redes logísticas, oferta de soluções “as a service” para empresas menores e padronização de integrações com sistemas corporativos como ERPs e TMS.

Impacto do mercado de consumo:
Avanços em dispositivos como Apple Vision Pro, Galaxy XR e Meta Glasses devem baratear componentes e elevar o padrão de qualidade esperado. Isso pressiona o mercado profissional a melhorar o conforto, a autonomia e a segurança dos equipamentos.

O resultado é um cenário em que óculos inteligentes se tornam mais acessíveis, maduros e integrados, influenciando diretamente a forma como entregas, logística e trabalho urbano serão organizados.

Os óculos inteligentes da Amazon mostram que a tecnologia está deixando a fase de experimentação e entrando diretamente no fluxo de trabalho.

Ao mesmo tempo, a disputa entre Apple, Samsung e Meta acelera avanços que, inevitavelmente, chegarão ao ambiente profissional, tornando esses dispositivos mais acessíveis e maduros.

Depois de tantas tentativas ao longo das últimas décadas, podemos estar finalmente diante de um cenário em que os óculos inteligentes começam, de fato, a substituir o smartphone.