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Bitchat: como funciona o novo app de mensagens que não precisa de internet

Criado por Jack Dorsey, o aplicativo usa Bluetooth e dispensa servidores, sinal de celular e Wi-Fi.

Postado em 19/08/2025

Leonardo Fróes

Enquanto as grandes plataformas de comunicação disputam espaço com promessas de privacidade e criptografia, Jack Dorsey, cofundador do Twitter e atual CEO da Block, decidiu seguir um caminho radicalmente diferente. Seu novo aplicativo, chamado Bitchat, propõe um modelo de comunicação totalmente offline: sem internet, sem servidores, sem números de telefone e com foco absoluto em privacidade e descentralização.

O Bitchat opera por meio de redes mesh via Bluetooth, permitindo que usuários troquem mensagens mesmo em ambientes sem sinal de rede ou em situações críticas, como eventos lotados, áreas remotas ou até cenários de censura. Lançado como um projeto experimental e já em fase beta pelo TestFlight (Apple), o app rapidamente atingiu o limite de 10 mil testadores, ganhando atenção por seu potencial disruptivo. Mas como, exatamente, essa tecnologia funciona? E quais são seus riscos, promessas e aplicações práticas?

A seguir, você confere os detalhes sobre o funcionamento do Bitchat, seus principais recursos e por que ele pode representar uma nova era para a comunicação digital.

O que é o Bitchat e por que ele foi criado

O Bitchat é um aplicativo de mensagens criptografadas que utiliza Bluetooth Low Energy (BLE) para estabelecer conexões diretas entre dispositivos, sem qualquer dependência da internet. Isso significa que ele não precisa de Wi-Fi, sinal de celular ou servidores para funcionar. Em termos simples, o próprio celular vira a torre de sinal, criando uma rede de comunicação local entre aparelhos próximos, como se cada dispositivo fosse parte da infraestrutura.

A proposta surge em um momento em que cresce o interesse por soluções descentralizadas e resistentes a falhas de infraestrutura ou censura. Criado em um final de semana por Jack Dorsey, o app reflete seu histórico envolvimento com tecnologias descentralizadas, como o Bitcoin e o protocolo Bluesky. O Bitchat é uma tentativa clara de viabilizar um novo modelo de comunicação ponto a ponto (peer-to-peer), com controle total do usuário e nenhuma interferência de servidores centrais.

Como funciona a comunicação offline

A base tecnológica do Bitchat é a chamada rede mesh via Bluetooth, um sistema em que dispositivos próximos se conectam diretamente e funcionam como nós (hubs) que encaminham mensagens de forma colaborativa. Assim, em vez de depender de torres de celular ou redes Wi-Fi, cada celular participa da rede retransmitindo os dados até que eles cheguem ao destinatário, mesmo que não estejam ao alcance direto um do outro.

Isso significa que mesmo que duas pessoas estejam fora do alcance direto de Bluetooth (normalmente cerca de 100 metros), suas mensagens ainda podem ser entregues com a ajuda de outros usuários entre elas. 

Quanto mais pessoas estiverem usando o Bitchat em um determinado local, mais eficiente e ampla se torna a rede de comunicação. Isso o torna especialmente útil em situações de baixa ou nenhuma conectividade, como áreas remotas, desastres naturais ou até shows com redes congestionadas.

A troca de mensagens ocorre de forma local, segura e sem intermediários, dispensando servidores, operadoras e qualquer tipo de infraestrutura tradicional.

Segurança, privacidade e criptografia

O Bitchat foi projetado para priorizar a privacidade em todos os níveis. Todas as mensagens são criptografadas de ponta a ponta, o que garante que somente o remetente e o destinatário possam acessar o conteúdo. Mesmo os dispositivos intermediários, usados para retransmitir os dados na rede mesh, não conseguem ler ou armazenar as mensagens. Em salas protegidas por senha, a criptografia é reforçada com o algoritmo AES (Advanced Encryption Standard), um dos mais confiáveis do mercado.

Além disso, o aplicativo não exige nenhum dado pessoal para funcionar, não há necessidade de criar contas, fornecer número de telefone, e-mail ou qualquer tipo de identificação. Ele também não coleta metadados, não rastreia a localização dos usuários e não mantém registros de atividades.

Por padrão, as mensagens se autodestroem após um tempo, reforçando a proteção contra interceptações ou vazamentos.

Por ser um projeto de código aberto (open source), o Bitchat permite que desenvolvedores contribuam com melhorias, criem versões personalizadas, ou integrem a tecnologia a outros sistemas. Isso amplia as possibilidades de uso da ferramenta e estimula a criação de soluções baseadas no mesmo princípio de comunicação offline e descentralizada.

Recursos que tornam o app discreto

O Bitchat incorpora uma série de funcionalidades pensadas para manter a comunicação ativa mesmo em cenários adversos, com máxima discrição e controle por parte do usuário. Entre os principais recursos estão:

  • Modo Pânico: apaga instantaneamente todas as mensagens e dados do app com um único toque, útil em situações de risco imediato.
  • Salas temáticas: permite organizar conversas por tópicos de interesse, facilitando a navegação em ambientes com muitos usuários.
  • Salas protegidas por senha: oferecem uma camada extra de criptografia e controle de acesso.
  • Visual em texto: com uma estética baseada em códigos, a interface do app se apresenta de forma simples e discreta, remetendo a sistemas nativos, o que também reduz o consumo de energia e processamento.

Casos de uso e inspirações anteriores

O Bitchat se inspira em casos reais de uso de redes mesh, como o do Bridgefy, aplicativo que ganhou projeção internacional ao ser utilizado durante os protestos pró-democracia em Hong Kong. Nessa ocasião, a comunicação via Bluetooth foi essencial para driblar bloqueios da internet e vigilância digital, permitindo que manifestantes se organizassem sem depender de operadoras ou redes Wi-Fi.

Embora ambos os apps compartilhem a base tecnológica da comunicação offline por Bluetooth mesh, o Bitchat adota uma abordagem ainda mais radical em termos de privacidade e descentralização. A proposta de Jack Dorsey elimina qualquer dependência de servidores, registros ou identificação do usuário, tornando a experiência totalmente anônima e local.

Essa arquitetura segue princípios associados ao universo das criptomoedas, como autonomia, resistência à censura e controle individual sobre a informação, ampliando o potencial do app em contextos de restrição ou instabilidade digital.

Desafios técnicos e alertas de segurança

Apesar do potencial disruptivo, o Bitchat ainda está em fase inicial de desenvolvimento e testes. O próprio Jack Dorsey publicou um alerta enfatizando que o aplicativo não passou por auditorias de segurança independentes, e que não deve ser utilizado em contextos que exigem proteção crítica de dados.

Especialistas em segurança digital apontaram que, embora a comunicação seja criptografada, o atual sistema de autenticação pode abrir brechas para interceptações ou ataques de spoofing, caso seja explorado por agentes maliciosos. Esses riscos são comuns em projetos que utilizam redes descentralizadas e exigem atenção redobrada antes de qualquer uso sensível.

Ainda assim, o Bitchat se destaca como um experimento transparente e colaborativo. O código é aberto, e o projeto segue em evolução com apoio da comunidade e integração com ferramentas da própria Block, como o assistente de IA “Goose”, voltado para análise e melhoria contínua do app.

Disponibilidade, fase de testes e expansão futura

No momento, o Bitchat está disponível exclusivamente para iOS por meio da plataforma TestFlight, com o programa beta atingindo rapidamente o limite de 10.000 usuários. A versão para Android está em desenvolvimento e, segundo Jack Dorsey, as versões oficiais para as lojas de aplicativos já foram submetidas e estão em fase de teste e revisão, com lançamento projetado para acontecer a qualquer momento.

Mesmo em caráter experimental, o app vem gerando grande interesse. Usuários ativos ao redor do mundo estão explorando suas funcionalidades, incluindo testes de envio de Bitcoin por meio da própria rede mesh, uma possibilidade alinhada com os princípios de descentralização que fundamentam o projeto.

Segundo dados divulgados por Dorsey no X (antigo Twitter), o Bitchat já está sendo testado em diversos países, com maior distribuição até o momento em:

  • Rússia
  • Estados Unidos
  • Ucrânia
  • Alemanha
  • Reino Unido

A resposta global positiva demonstra que há uma demanda real por soluções de comunicação descentralizadas, privadas e resilientes, especialmente em contextos de instabilidade, censura ou ausência de infraestrutura tradicional.

O futuro da comunicação descentralizada

O Bitchat aposta na ideia de que, em um mundo hiperconectado, a liberdade digital real pode estar justamente na capacidade de operar fora da rede centralizada. O app materializa essa visão combinando simplicidade de uso, princípios do Bitcoin e tecnologias emergentes como a rede mesh via Bluetooth.

Se a tecnologia evoluir com auditorias confiáveis, avanços em segurança e maior adesão da comunidade open source, o Bitchat pode se consolidar como uma ferramenta estratégica, seja em contextos de restrição à liberdade de expressão, zonas de conflito, desastres naturais ou mesmo como uma alternativa cotidiana mais consciente e autônoma.

Ainda em fase beta, o app já demonstra que há espaço para soluções fora do modelo tradicional. Em vez de depender da nuvem, do Wi-Fi ou de servidores corporativos, a comunicação offline e descentralizada pode, sim, ganhar força, e o Bitchat é um dos sinais dessa tendência.