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Bluesky: a nova rede social favorita dos cientistas

Entenda por que pesquisadores estão migrando para o Bluesky e como a plataforma se tornou um espaço privilegiado para ciência, networking e engajamento acadêmico

Postado em 17/09/2025

Leonardo Fróes

Desde que o Twitter passou a se chamar X, a comunidade científica começou a buscar novos espaços para compartilhar pesquisas, trocar ideias e interagir com colegas. Nesse movimento, uma rede social emergiu como favorita: o Bluesky.

Além de uma alternativa nostálgica ao antigo Twitter, o Bluesky vem se consolidando como um ambiente fértil para debates acadêmicos e networking entre pesquisadores, oferecendo níveis de engajamento superiores aos da plataforma de Elon Musk. Estudos recentes mostram que artigos científicos recebem mais interações, originalidade nos comentários e maior aprofundamento nas discussões dentro do Bluesky.

Neste artigo, vamos explorar o que é o Bluesky, por que ele atraiu a comunidade científica, quais são suas vantagens em relação ao X e como está moldando um novo cenário de comunicação acadêmica nas redes sociais.

O que é o Bluesky e por que ele cresceu tão rápido

Lançado em 2023, o Bluesky é uma rede social de microblogging que surgiu com o objetivo de oferecer uma experiência semelhante ao antigo Twitter, mas com mais controle sobre o conteúdo e menos ruído algorítmico.

Em sua fase inicial, funcionou por convite, atraindo rapidamente milhões de usuários. Hoje, já conta com mais de 38 milhões de cadastros, 25,5 milhões de downloads do aplicativo e cerca de 4,1 milhões de usuários ativos diariamente (junho de 2025).

Eventos políticos e mudanças polêmicas no Twitter/X, especialmente após a aquisição por Elon Musk, aceleraram a migração para o Bluesky. Entre os que mais se beneficiaram dessa transição estão justamente os cientistas e pesquisadores.

Por que os cientistas abandonaram o X

Durante anos, o Twitter foi apelidado de “Science Twitter”, um ambiente onde acadêmicos, pesquisadores e divulgadores encontravam visibilidade para artigos, resultados de estudos e debates de alto nível. O formato curto dos posts, aliado à rapidez da rede, ajudava na troca de informações e na formação de comunidades científicas globais.

Com a transição para o X e as mudanças de gestão, esse espaço passou a apresentar obstáculos para quem buscava conteúdo qualificado:

  • Crescimento de trolls e bots, dificultando discussões sérias.
  • Redução do alcance orgânico de postagens científicas, mesmo quando relevantes.
  • Algoritmo pouco transparente, que prioriza polêmicas, debates políticos e entretenimento em detrimento de ciência.

O impacto foi direto: muitos pesquisadores relataram queda no engajamento, perda de alcance para artigos e menor capacidade de networking acadêmico. Nesse cenário, o Bluesky surgiu como alternativa mais aberta e menos conflituosa, oferecendo aos cientistas um ambiente em que a tecnologia de rede social volta a servir como meio de colaboração e compartilhamento de conhecimento.

Essa dinâmica lembra em alguns aspectos o que já aconteceu no Quora, plataforma que se tornou referência global ao reunir intelectuais, pesquisadores e jornalistas em torno de perguntas e respostas aprofundadas. O Bluesky, ao adotar uma lógica semelhante de incentivo a conteúdo qualificado, dá sinais de poder se tornar o novo espaço de referência para a comunicação científica e intelectual online.

Um novo espaço para ciência e networking

Diferente do X, o Bluesky vem sendo percebido por pesquisadores como uma rede mais limpa, focada e tecnicamente estruturada para favorecer o diálogo acadêmico. O feed, segundo relatos, é dominado por cientistas, laboratórios, universidades e revistas especializadas, o que fortalece a curadoria natural do conteúdo e aumenta a relevância das interações.

Por trás dessa experiência, está a arquitetura aberta da plataforma (AT Protocol), que possibilita filtros mais precisos, moderação descentralizada e maior controle sobre os algoritmos. Essa combinação tecnológica contribui para um ambiente em que descobertas, artigos e debates ganham visibilidade sem serem sufocados por polêmicas ou ruídos típicos de outras redes.

Assim, o Bluesky se consolida como um espaço onde a tecnologia social é usada para gerar conexão por interesses em comum, compartilhamento de conhecimento em tempo real e formação de redes de colaboração científica globais, algo cada vez mais essencial em um ecossistema acadêmico digital e conectado.

Estudos sobre engajamento científico na plataforma

Pesquisas recentes ajudam a explicar por que o Bluesky tem se tornado terreno fértil para a comunicação científica.

Um estudo da Universidade Técnica de Darmstadt, apresentado na Internet Measurement Conference, analisou a plataforma sob a ótica da arquitetura e da governança. Os autores destacam que o desenho aberto do AT Protocol, aliado a feeds personalizados, moderação comunitária por labels e APIs acessíveis, favorece a formação de nichos de interesse e conversas técnicas, ao mesmo tempo em que minimiza ruído algorítmico. Para pesquisadores, isso se traduz em maior previsibilidade de alcance, rastreabilidade de discussões e facilidade para coleta de dados, contrastando com as restrições de dados impostas pelo X/Twitter.

O sociólogo Mark Carrigan (Universidade de Manchester) também documenta o surgimento de comunidades acadêmicas coesas no Bluesky, comparáveis ao antigo “Science Twitter”. Nos feeds, perfis de pesquisadores, laboratórios e periódicos predominam, elevando a relevância e a originalidade das interações. Carrigan alerta, porém, que mesmo em ecossistemas descentralizados, a academia não está imune à captura por plataformas comerciais, reforçando a importância de protocolos verdadeiramente abertos, como o AT.

Em conjunto, essas evidências indicam que arquitetura aberta + moderação distribuída + ferramentas de dados acessíveis cria as condições para um engajamento científico mais consistente, profundo e replicável, exatamente o que a comunidade acadêmica buscava após a erosão do antigo “Science Twitter”.

O papel da comunidade acadêmica 

O crescimento da ciência no Bluesky não aconteceu de forma automática; ele foi resultado de uma movimentação consciente da própria comunidade acadêmica. Ao perceberem a perda de relevância do X/Twitter, pesquisadores decidiram agir coletivamente para ocupar o novo espaço digital, criando desde cedo uma rede sustentável e engajada.

Nesse processo, líderes de opinião, como David Shiffman (biólogo marinho) e Tara C. Smith (epidemiologista), tiveram papel central. Eles não apenas migraram, mas também levaram consigo suas audiências acadêmicas, incentivando colegas, instituições e laboratórios a se unirem à plataforma. Essa mobilização inicial foi decisiva para garantir densidade de conteúdo, diversidade de temas e qualidade nas interações.

O resultado é que o Bluesky não se limitou a ser uma alternativa ao X: tornou-se rapidamente um ambiente moldado pela própria comunidade científica, que encontrou nele as condições ideais para cultivar diálogos construtivos e fortalecer colaborações globais.

Vantagens do Bluesky para cientistas

Além do maior engajamento e originalidade do conteúdo, os pesquisadores destacam benefícios específicos da plataforma:

  • Controle sobre o conteúdo exibido no feed, permitindo acompanhar apenas o que é relevante para suas áreas de interesse.
  • Menor exposição a trolls, bots e teorias da conspiração, fortalecendo discussões construtivas.
  • Espaço para debates colaborativos e aprofundados, essencial para ciência e ensino.
  • Sensação de comunidade coesa, unida em torno do compartilhamento de conhecimento.

Para muitos acadêmicos, o Bluesky ainda não substitui o Twitter em sua fase áurea, mas já supera significativamente o X atual em termos de qualidade de interações científicas.

Limitações e desafios da plataforma

Apesar das vantagens, o Bluesky ainda enfrenta obstáculos que podem limitar seu impacto global:

  • Base de usuários menor que a do X, o que restringe interações fora do meio acadêmico.
  • Queda no número de usuários ativos desde o pico de 2024, exigindo estratégias para manter engajamento contínuo.
  • Estrutura enxuta da empresa, com apenas 25 funcionários em tempo integral, o que limita escalabilidade e desenvolvimento de novas funcionalidades.

Ou seja, embora seja um ambiente fértil para ciência, o Bluesky ainda precisa evoluir para se consolidar como uma rede dominante, mantendo o equilíbrio entre tecnologia aberta, comunidade engajada e qualidade de conteúdo.

O futuro da comunicação científica nas redes sociais

A experiência do Bluesky evidencia que a ciência precisa de espaços digitais estruturados e confiáveis para prosperar. Hoje, redes sociais são ferramentas estratégicas para networking, colaborações internacionais, disseminação de conhecimento e até influência em políticas públicas baseadas em evidências.

Com engajamento consistente e uma comunidade acadêmica ativa, o Bluesky já se destaca como uma plataforma estratégica para comunicação científica, aproveitando a tecnologia aberta do AT Protocol para garantir relevância, previsibilidade e controle de conteúdo.

Se o X representou o auge do “Science Twitter”, o Bluesky surge como o “Science Bluesky”, oferecendo aos pesquisadores um ambiente mais focado, colaborativo e tecnicamente robusto. A tendência é que cada vez mais acadêmicos incorporem essa plataforma em sua rotina profissional, consolidando o futuro da ciência nas redes sociais.

Portanto, em vista do exposto, conclui-se que o futuro da ciência digital já não cabe mais no X, e o Bluesky mostra como redes abertas podem devolver o protagonismo à pesquisa.