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Como funciona o Mastodon, a rede social que tem incomodado gigantes da tecnologia

Plataforma descentralizada cresce em popularidade e se apresenta como alternativa às redes sociais tradicionais, atraindo atenção até de concorrentes como a Meta

Postado em 07/10/2025

Leonardo Fróes

O ecossistema das redes sociais passa por uma fase de transformação intensa. A centralização do poder em empresas como Meta, X (antigo Twitter) e TikTok tem gerado desconfiança em usuários e criadores de conteúdo.

Nesse cenário, o Mastodon vem ganhando espaço como uma alternativa descentralizada, baseada em código aberto e em um modelo que prioriza a autonomia dos participantes. A própria chamada do site oficial é uma provocação: “A rede social que não está à venda”.

Mas afinal, o que é o Mastodon, como ele funciona e por que sua existência incomoda tanto os gigantes da tecnologia?

O que são redes sociais descentralizadas

As redes sociais descentralizadas representam uma ruptura no modelo tradicional das plataformas. Em vez de dependerem de um servidor central controlado por uma empresa, esses sistemas se espalham por uma rede de servidores independentes, administrados por diferentes pessoas ou organizações.

A criação desse modelo surgiu como resposta a limitações percebidas nas redes centralizadas: excesso de controle corporativo sobre o conteúdo, vulnerabilidade à censura ou decisões arbitrárias, e a dificuldade de personalizar ou moderar comunidades de forma transparente.

O objetivo era oferecer uma alternativa mais democrática, em que usuários e administradores pudessem definir suas próprias regras e políticas de interação, mantendo autonomia sobre seus dados e experiências. Esse formato oferece maior autonomia e menos vulnerabilidade às decisões de governos ou de líderes de empresas bilionárias.

No centro desse modelo, está o Fediverse, um ecossistema de plataformas interconectadas por protocolos como o ActivityPub, que permite a interação entre diferentes redes.

A proposta do Mastodon

Criado em 2016 por Eugen Rochko, o Mastodon foi um dos primeiros projetos a popularizar a ideia de redes sociais descentralizadas. Inspirado no formato de microblog, ele lembra o antigo Twitter no design do feed, mas opera de forma totalmente distinta: em vez de um único “Mastodon”, existem milhares de servidores independentes, chamados de instâncias.

Cada instância tem suas próprias regras, moderação e comunidade. Ainda assim, os usuários podem interagir entre si, independentemente da instância escolhida. Hoje, já são mais de 9.500 servidores, reunindo cerca de 8,1 milhões de usuários registrados.

Como funcionam as instâncias

No Mastodon, não há um servidor central. Em vez disso, o usuário precisa escolher uma instância para criar sua conta. Cada instância funciona como uma comunidade independente, mas interligada ao restante da rede.

Alguns pontos ajudam a entender melhor:

Autonomia: cada instância define suas próprias regras de convivência, políticas de moderação e até aspectos técnicos.

Comunidades temáticas: existem instâncias voltadas para tecnologia, política, arte, cultura pop, ativismo e até grupos locais, tornando a experiência mais segmentada.

Mastodon.social: é a instância mais popular, com cerca de 300 mil usuários ativos, funcionando como vitrine do Fediverse.

Interconexão: mesmo que você esteja em uma instância de nicho, pode seguir, curtir e interagir com usuários de qualquer outra, graças ao protocolo ActivityPub.

Moderação descentralizada: cada instância possui administradores locais que definem e aplicam regras. Algumas são mais rígidas, outras mais flexíveis, o que gera debates sobre consistência e eficácia.

Na prática, isso torna o Mastodon um ecossistema federado: várias comunidades independentes que, juntas, formam uma rede social ampla, em que o usuário pode escolher o ambiente que mais se adapta às suas necessidades.

A conexão com o Fediverse

Um dos grandes diferenciais do Mastodon é a integração com o Fediverse, o ecossistema de redes sociais descentralizadas que utilizam o protocolo ActivityPub. Isso significa que, além de interagir com usuários de outras instâncias do próprio Mastodon, é possível se conectar a plataformas diferentes, como:

PeerTube: alternativa aberta ao YouTube, focada em compartilhamento de vídeos.

Pixelfed: semelhante ao Instagram, voltado para publicação e interação com imagens.

Funkwhale: para streaming de música de forma colaborativa.

Esse modelo permite que o usuário mantenha sua identidade digital única ao transitar entre serviços distintos, algo impensável em redes tradicionais como Facebook ou Instagram, que mantêm seus dados presos dentro de ecossistemas fechados.

Na prática, o Fediverse cria uma internet social mais aberta e interoperável, onde a escolha da plataforma não limita a capacidade de se conectar com outras pessoas e comunidades.

Desafios da moderação descentralizada

A descentralização amplia a autonomia e fortalece a liberdade de expressão, mas também traz um desafio central: como moderar conteúdos de forma eficaz. No Mastodon, cada instância define suas próprias regras e conta com moderadores locais para aplicá-las.

Esse modelo tem pontos fortes:

- Comunidades menores conseguem criar normas adequadas ao seu perfil, como instâncias voltadas à ciência, arte ou ao ativismo.

- A moderação local é geralmente mais próxima e transparente, aumentando a confiança dos usuários.

Mas os problemas aparecem em larga escala:

- Servidores grandes, com centenas de milhares de usuários, enfrentam dificuldades de controle, já que a moderação depende de voluntários.

- Pesquisas, como as do Stanford Internet Observatory, já identificaram a circulação de conteúdos nocivos em partes do Fediverse, expondo limitações do modelo.

Essa realidade levanta questões éticas e jurídicas: até que ponto a responsabilidade recai sobre administradores locais e até onde deve existir coordenação global para garantir um ambiente digital mais seguro?

O incômodo para os gigantes da tecnologia

O crescimento do Mastodon acontece justamente em um momento de desgaste das plataformas tradicionais.

A compra do Twitter por Elon Musk, marcada por decisões polêmicas de gestão e pela intensificação do debate sobre liberdade de expressão, gerou descontentamento entre usuários e abriu espaço para novas alternativas digitais. Ao mesmo tempo, a Meta enfrenta críticas recorrentes por seu domínio de mercado e pela forma como coleta e utiliza dados pessoais, além de pressões regulatórias em diferentes países.

Nesse cenário, o Mastodon surge como contraponto: uma rede que não pertence a uma única empresa, não depende de publicidade agressiva e aposta em um modelo aberto e comunitário.

O incômodo foi suficiente para que a Meta lançasse o Threads, apresentado como concorrente direto do X/Twitter. Apesar de centralizado, o Threads deu seus primeiros passos rumo ao Fediverse, permitindo integração experimental com instâncias do Mastodon e outras redes baseadas no protocolo ActivityPub.

Essa aproximação revela uma contradição: ao mesmo tempo em que tenta preservar sua hegemonia, a Meta é forçada a dialogar com um ecossistema que nasceu justamente para se afastar do controle das big techs.

Casos curiosos de uso do Mastodon

A influência do Mastodon vai muito além de seus servidores independentes. Alguns exemplos chamam a atenção pela forma como a tecnologia aberta foi adaptada:

Truth Social (EUA): a rede criada pelo presidente Donald Trump utilizou o código aberto do Mastodon como base, embora tenha optado por não se conectar ao Fediverse. Esse caso ilustra a flexibilidade do software, capaz de sustentar até projetos políticos de grande escala.

Governos e instituições: diversos órgãos públicos dos EUA e organizações já experimentam instâncias próprias do Mastodon. O objetivo é claro: ter mais controle sobre a comunicação e reduzir a dependência de plataformas privadas ou estrangeiras.

Esses exemplos reforçam a versatilidade do Mastodon, que pode ser moldado para atender desde iniciativas políticas até necessidades institucionais de transparência e soberania digital.

O futuro do Mastodon e das redes descentralizadas

Ainda que o Mastodon esteja distante da escala de um Facebook ou TikTok, sua relevância cresce a cada ano, impulsionada por mudanças no comportamento dos usuários. Hoje, cada vez mais pessoas valorizam:

Transparência: código aberto e governança mais participativa.

Autonomia: possibilidade de escolher servidores e comunidades alinhadas a seus valores.

Menos interferência corporativa: comunicação sem a lógica de algoritmos voltados ao lucro.

O Mastodon pode seguir dois caminhos complementares:

Alternativa independente: para usuários que buscam ambientes livres de controle centralizado.

Fonte de inspiração: para gigantes da tecnologia que adaptam seus serviços pensando em conceitos de autonomia e interconexão.

Assim, se consolida como um dos símbolos de resistência às estruturas centralizadas que dominam a internet por décadas, representando um futuro mais aberto e colaborativo para as redes sociais.