Codebit - Programando Soluções

Tecnologia

Meta vs Apple: a corrida para o futuro do mobile

Óculos inteligentes, IA e bilhões em investimentos: quem vai criar o dispositivo que substituirá o smartphone?

Postado em 21/10/2025

Leonardo Fróes

O smartphone foi, sem dúvida, o dispositivo que redefiniu o século XXI. Mas agora, mais de 15 anos após o lançamento do iPhone, surge uma nova pergunta: qual será o próximo aparelho capaz de transformar a forma como interagimos com o mundo digital?

A resposta pode estar nos óculos inteligentes com inteligência artificial (AI smart glasses). Nesse cenário, duas gigantes se destacam: Meta, com seus Ray-Ban Meta AI Glasses, e Apple, que após o Vision Pro, agora redireciona recursos para desenvolver seus próprios óculos de próxima geração.

Além de uma batalha de hardware, trata-se de uma corrida bilionária para determinar quem vai liderar a era pós-smartphone.

Os óculos inteligentes voltaram ao centro da disputa

O conceito de óculos inteligentes surgiu há mais de uma década, com o Google Glass em 2013. Na época, prometiam transformar nossa interação com o mundo digital, mas acabaram esbarrando em problemas de usabilidade, privacidade e aceitação social. A Meta tentou novamente com os Ray-Ban Stories em 2021, porém a adoção ainda foi limitada.

Por anos, os smart glasses foram vistos como curiosidades ou gadgets experimentais. No entanto, hoje, com a evolução da inteligência artificial generativa, a miniaturização de componentes e a integração com assistentes digitais, eles ressurgem com força.

Esses dispositivos deixam de ser meros visores de informações para se tornarem extensões naturais do dia a dia, capazes de capturar, processar e interagir com o mundo em tempo real, de forma fluida e prática. 

Ray-Ban Meta AI Glasses: tecnologia que se encaixa na vida real

Lançados em 2023, os Ray-Ban Meta AI Glasses já venderam cerca de 2 milhões de unidades e se tornaram presença marcante em eventos como Oscars, Met Gala e Paris Fashion Week. Eles mostram como a tecnologia pode ser incorporada naturalmente ao cotidiano.

O sucesso se deve a três fatores:

  • Design discreto e socialmente aceito: com aparência de óculos comuns, passam despercebidos e eliminam o estigma de dispositivos volumosos ou futuristas demais.
  • Integração com IA: permitem fazer perguntas por voz, obter respostas instantâneas, traduzir idiomas, além de registrar fotos e vídeos sem precisar do celular.
  • Conveniência diária: ouvir músicas, atender ligações, receber instruções de rota ou compartilhar conteúdos acontecem de forma prática e sem interrupções na rotina.

A simplicidade é justamente a grande vantagem da Meta. Em vez de apostar em uma experiência distante da realidade, os óculos oferecem recursos já úteis no presente, combinando estilo, conectividade e inteligência artificial em um formato fácil de adotar.

Apple muda de rota: do Vision Pro para os AI Glasses

O Apple Vision Pro, lançado em 2024, mostrou o poder da realidade mista, mas também suas limitações: preço elevado, peso e dificuldade de uso em contextos sociais.

Segundo reportagens da Bloomberg, a Apple decidiu suspender a atualização planejada do Vision Pro para concentrar recursos no desenvolvimento de óculos inteligentes, com dois projetos principais:

  • N50: óculos que se conectam ao iPhone, sem display próprio. Lançamento previsto para 2027, mas o anúncio pode acontecer já no próximo ano.
  • Modelo com display: rival direto dos Ray-Ban Meta Display, originalmente previsto para 2028, mas agora acelerado para chegar antes.

Essa mudança mostra que até a Apple reconhece: o futuro mobile não está em headsets isolados, mas em dispositivos leves, sociais e impulsionados por IA.

A batalha da inteligência artificial: Siri vs Meta AI

Nenhum dos dispositivos terá futuro sem uma camada robusta de inteligência artificial. É nesse ponto que a disputa se intensifica.

A Meta aposta em integrar seus óculos a um assistente multimodal próprio, capaz de lidar com imagens, sons e texto. Na prática, isso já permite traduções em tempo real, consultas rápidas e até respostas contextuais com base no que a câmera está vendo. Esse nível de interação aproxima os óculos do papel de “novo smartphone”, já que reduz a necessidade de recorrer a outros dispositivos.

A Apple, em contrapartida, enfrenta um desafio: a Siri foi deixada para trás em comparação a concorrentes como ChatGPT, Gemini (Google) e Claude (Anthropic). Para recuperar terreno, a empresa aposta no Apple Intelligence e em uma Siri remodelada, prevista para o primeiro semestre de 2026, que promete ser mais natural, integrada e proativa.

Investimentos bilionários e design de alto nível

Essa corrida não é somente tecnológica: é estratégica e financeira. Estão em jogo bilhões de dólares em pesquisa, desenvolvimento e marketing, já que criar o dispositivo sucessor do smartphone exige não só inovação, mas também escala global.

A Meta já trabalha em uma nova versão dos seus óculos para 2027, com dois displays independentes que ampliam as possibilidades de realidade aumentada e prometem transformar como consumimos informação em movimento. O investimento segue a linha da empresa de Mark Zuckerberg em priorizar wearables acessíveis e altamente integrados à sua plataforma de IA.

A Apple, por sua vez, aposta no seu histórico de design premium e na criação de experiências integradas ao ecossistema iOS. Para isso, recorre a nomes de peso como Jony Ive, o designer por trás do iPhone, que agora colabora em projetos de novas interfaces para dispositivos inteligentes. A ideia é repetir o feito do iPhone: transformar um gadget em um objeto de desejo global.

O impacto para o mercado mobile

Se os óculos inteligentes realmente substituírem ou reduzirem o papel do smartphone, os impactos para o mercado mobile serão profundos. Não se trata apenas de lançar um novo gadget, mas de reescrever a lógica de consumo e monetização da tecnologia pessoal.

Algumas transformações possíveis incluem:

  • Mudança nos hábitos de consumo: menos tempo olhando para telas retangulares e maior interação por voz, gestos e contexto.
  • Transformação da publicidade digital: marcas precisarão se adaptar para aparecer em experiências imersivas, que não seguem o formato de banners ou vídeos curtos.
  • Reinvenção do SEO e do conteúdo online: buscas por voz e assistentes multimodais mudam como as informações são indexadas e exibidas.
  • Novos ecossistemas de apps: assim como a App Store moldou o mercado do iPhone, os smart glasses podem exigir plataformas próprias, com apps otimizados para realidade aumentada.

Outro ponto de atenção é o destino de apostas em dispositivos disruptivos que não decolaram, como os smartphones dobráveis. Apesar do alto investimento de marcas como Samsung, Huawei e Motorola, a adoção permaneceu limitada, mostrando que nem toda inovação consegue virar padrão de mercado. No caso dos smart glasses, o desafio é ainda maior: não basta impressionar, é preciso oferecer conveniência, preço acessível e um design que se encaixe no dia a dia.

Outros competidores na corrida

Embora o duelo principal seja entre Apple e Meta, várias outras gigantes da tecnologia estão acelerando para não ficarem de fora da próxima geração de dispositivos móveis inteligentes.

  • Google: após o fracasso do Google Glass na década passada, a empresa está revisitando a ideia de smart glasses com foco em IA avançada e integração com o ecossistema Android. A experiência serviu como aprendizado sobre design, usabilidade e aceitação social.
  • Amazon: investe na expansão da Alexa para além das casas inteligentes, mirando dispositivos móveis que combinam assistentes multimodais com visão computacional e voz. A estratégia é transformar a interação cotidiana em algo mais intuitivo e integrado.
  • OpenAI: além de liderar no desenvolvimento de IA generativa, a empresa se uniu a Jony Ive, ex-designer da Apple, para criar uma linha de hardware que coloca a IA no centro da experiência do usuário, explorando interfaces inovadoras e design de ponta.

Outros players emergentes: startups e fabricantes de wearables de realidade aumentada também estão testando protótipos que combinam IA, sensores ambientais e conectividade móvel, criando soluções experimentais que podem acelerar a evolução do mercado.

Quem criará o dispositivo definitivo?

A grande pergunta permanece: quem vai lançar o sucessor do smartphone?

A Meta tem a vantagem da agilidade e do pioneirismo: já possui um produto no mercado, socialmente aceito e em constante evolução. A Apple, por outro lado, traz o poder de marca, integração de ecossistema e histórico de transformar tecnologias em mainstream.

O dispositivo definitivo ainda não chegou, mas quando surgir, pode mudar a maneira como trabalhamos, nos comunicamos e consumimos informação. E isso é a dualidade do progresso: a tecnologia moldando o homem e o homem transformando o mundo!