O smartphone foi, sem dúvida, o dispositivo que redefiniu o século XXI. Mas agora, mais de 15 anos após o lançamento do iPhone, surge uma nova pergunta: qual será o próximo aparelho capaz de transformar a forma como interagimos com o mundo digital?
A resposta pode estar nos óculos inteligentes com inteligência artificial (AI smart glasses). Nesse cenário, duas gigantes se destacam: Meta, com seus Ray-Ban Meta AI Glasses, e Apple, que após o Vision Pro, agora redireciona recursos para desenvolver seus próprios óculos de próxima geração.
Além de uma batalha de hardware, trata-se de uma corrida bilionária para determinar quem vai liderar a era pós-smartphone.
Os óculos inteligentes voltaram ao centro da disputa
O conceito de óculos inteligentes surgiu há mais de uma década, com o Google Glass em 2013. Na época, prometiam transformar nossa interação com o mundo digital, mas acabaram esbarrando em problemas de usabilidade, privacidade e aceitação social. A Meta tentou novamente com os Ray-Ban Stories em 2021, porém a adoção ainda foi limitada.
Por anos, os smart glasses foram vistos como curiosidades ou gadgets experimentais. No entanto, hoje, com a evolução da inteligência artificial generativa, a miniaturização de componentes e a integração com assistentes digitais, eles ressurgem com força.
Esses dispositivos deixam de ser meros visores de informações para se tornarem extensões naturais do dia a dia, capazes de capturar, processar e interagir com o mundo em tempo real, de forma fluida e prática.
Ray-Ban Meta AI Glasses: tecnologia que se encaixa na vida real
Lançados em 2023, os Ray-Ban Meta AI Glasses já venderam cerca de 2 milhões de unidades e se tornaram presença marcante em eventos como Oscars, Met Gala e Paris Fashion Week. Eles mostram como a tecnologia pode ser incorporada naturalmente ao cotidiano.
O sucesso se deve a três fatores:
- Design discreto e socialmente aceito: com aparência de óculos comuns, passam despercebidos e eliminam o estigma de dispositivos volumosos ou futuristas demais.
- Integração com IA: permitem fazer perguntas por voz, obter respostas instantâneas, traduzir idiomas, além de registrar fotos e vídeos sem precisar do celular.
- Conveniência diária: ouvir músicas, atender ligações, receber instruções de rota ou compartilhar conteúdos acontecem de forma prática e sem interrupções na rotina.
A simplicidade é justamente a grande vantagem da Meta. Em vez de apostar em uma experiência distante da realidade, os óculos oferecem recursos já úteis no presente, combinando estilo, conectividade e inteligência artificial em um formato fácil de adotar.
Apple muda de rota: do Vision Pro para os AI Glasses
O Apple Vision Pro, lançado em 2024, mostrou o poder da realidade mista, mas também suas limitações: preço elevado, peso e dificuldade de uso em contextos sociais.
Segundo reportagens da Bloomberg, a Apple decidiu suspender a atualização planejada do Vision Pro para concentrar recursos no desenvolvimento de óculos inteligentes, com dois projetos principais:
- N50: óculos que se conectam ao iPhone, sem display próprio. Lançamento previsto para 2027, mas o anúncio pode acontecer já no próximo ano.
- Modelo com display: rival direto dos Ray-Ban Meta Display, originalmente previsto para 2028, mas agora acelerado para chegar antes.
Essa mudança mostra que até a Apple reconhece: o futuro mobile não está em headsets isolados, mas em dispositivos leves, sociais e impulsionados por IA.
A batalha da inteligência artificial: Siri vs Meta AI
Nenhum dos dispositivos terá futuro sem uma camada robusta de inteligência artificial. É nesse ponto que a disputa se intensifica.
A Meta aposta em integrar seus óculos a um assistente multimodal próprio, capaz de lidar com imagens, sons e texto. Na prática, isso já permite traduções em tempo real, consultas rápidas e até respostas contextuais com base no que a câmera está vendo. Esse nível de interação aproxima os óculos do papel de “novo smartphone”, já que reduz a necessidade de recorrer a outros dispositivos.
A Apple, em contrapartida, enfrenta um desafio: a Siri foi deixada para trás em comparação a concorrentes como ChatGPT, Gemini (Google) e Claude (Anthropic). Para recuperar terreno, a empresa aposta no Apple Intelligence e em uma Siri remodelada, prevista para o primeiro semestre de 2026, que promete ser mais natural, integrada e proativa.
Investimentos bilionários e design de alto nível
Essa corrida não é somente tecnológica: é estratégica e financeira. Estão em jogo bilhões de dólares em pesquisa, desenvolvimento e marketing, já que criar o dispositivo sucessor do smartphone exige não só inovação, mas também escala global.
A Meta já trabalha em uma nova versão dos seus óculos para 2027, com dois displays independentes que ampliam as possibilidades de realidade aumentada e prometem transformar como consumimos informação em movimento. O investimento segue a linha da empresa de Mark Zuckerberg em priorizar wearables acessíveis e altamente integrados à sua plataforma de IA.
A Apple, por sua vez, aposta no seu histórico de design premium e na criação de experiências integradas ao ecossistema iOS. Para isso, recorre a nomes de peso como Jony Ive, o designer por trás do iPhone, que agora colabora em projetos de novas interfaces para dispositivos inteligentes. A ideia é repetir o feito do iPhone: transformar um gadget em um objeto de desejo global.
O impacto para o mercado mobile
Se os óculos inteligentes realmente substituírem ou reduzirem o papel do smartphone, os impactos para o mercado mobile serão profundos. Não se trata apenas de lançar um novo gadget, mas de reescrever a lógica de consumo e monetização da tecnologia pessoal.
Algumas transformações possíveis incluem:
- Mudança nos hábitos de consumo: menos tempo olhando para telas retangulares e maior interação por voz, gestos e contexto.
- Transformação da publicidade digital: marcas precisarão se adaptar para aparecer em experiências imersivas, que não seguem o formato de banners ou vídeos curtos.
- Reinvenção do SEO e do conteúdo online: buscas por voz e assistentes multimodais mudam como as informações são indexadas e exibidas.
- Novos ecossistemas de apps: assim como a App Store moldou o mercado do iPhone, os smart glasses podem exigir plataformas próprias, com apps otimizados para realidade aumentada.
Outro ponto de atenção é o destino de apostas em dispositivos disruptivos que não decolaram, como os smartphones dobráveis. Apesar do alto investimento de marcas como Samsung, Huawei e Motorola, a adoção permaneceu limitada, mostrando que nem toda inovação consegue virar padrão de mercado. No caso dos smart glasses, o desafio é ainda maior: não basta impressionar, é preciso oferecer conveniência, preço acessível e um design que se encaixe no dia a dia.
Outros competidores na corrida
Embora o duelo principal seja entre Apple e Meta, várias outras gigantes da tecnologia estão acelerando para não ficarem de fora da próxima geração de dispositivos móveis inteligentes.
- Google: após o fracasso do Google Glass na década passada, a empresa está revisitando a ideia de smart glasses com foco em IA avançada e integração com o ecossistema Android. A experiência serviu como aprendizado sobre design, usabilidade e aceitação social.
- Amazon: investe na expansão da Alexa para além das casas inteligentes, mirando dispositivos móveis que combinam assistentes multimodais com visão computacional e voz. A estratégia é transformar a interação cotidiana em algo mais intuitivo e integrado.
- OpenAI: além de liderar no desenvolvimento de IA generativa, a empresa se uniu a Jony Ive, ex-designer da Apple, para criar uma linha de hardware que coloca a IA no centro da experiência do usuário, explorando interfaces inovadoras e design de ponta.
Outros players emergentes: startups e fabricantes de wearables de realidade aumentada também estão testando protótipos que combinam IA, sensores ambientais e conectividade móvel, criando soluções experimentais que podem acelerar a evolução do mercado.
Quem criará o dispositivo definitivo?
A grande pergunta permanece: quem vai lançar o sucessor do smartphone?
A Meta tem a vantagem da agilidade e do pioneirismo: já possui um produto no mercado, socialmente aceito e em constante evolução. A Apple, por outro lado, traz o poder de marca, integração de ecossistema e histórico de transformar tecnologias em mainstream.
O dispositivo definitivo ainda não chegou, mas quando surgir, pode mudar a maneira como trabalhamos, nos comunicamos e consumimos informação. E isso é a dualidade do progresso: a tecnologia moldando o homem e o homem transformando o mundo!