Após a explosão de interesse em 2021 e 2022, o metaverso parece ter perdido o brilho para muitos. Com a atenção voltada agora para a inteligência artificial generativa, muitas empresas se perguntam: ainda vale investir em iniciativas relacionadas ao metaverso?
A resposta é sim, desde que com estratégia, foco no valor real e integração com tecnologias que já fazem parte do dia a dia. Longe de ser uma bolha, o metaverso está sendo incorporado de forma mais silenciosa (e prática) em áreas como varejo, treinamento corporativo, saúde, eventos e educação.
Neste artigo, mostramos como o conceito evoluiu, o que já está sendo usado com bons resultados e quais caminhos sua empresa pode seguir para não ficar de fora dessa transformação, mesmo que o termo “metaverso” não esteja mais nos holofotes.
Indo além do hype
Em 2021, Mark Zuckerberg cravou: o metaverso seria o sucessor da internet móvel. A Meta (ex-Facebook) liderou uma onda de investimentos bilionários em realidade virtual, mundos imersivos e avatares digitais. Gigantes como Microsoft, Disney, Nike e Walmart seguiram a tendência, enquanto consultorias globais projetavam movimentações abrangendo US$ 5 trilhões até 2030. O entusiasmo foi imediato, impulsionado por promessas de transformação digital total e novos mercados inteiros sendo redesenhados.
Porém, em menos de dois anos, o metaverso perdeu protagonismo. Plataformas como Decentraland e Horizon Worlds registraram quedas de usuários, grandes empresas desaceleraram suas apostas e parte do mercado rotulou o conceito como exagerado ou prematuro.
Mas, isso significa que o metaverso fracassou? Ou apenas entramos na fase mais crítica de qualquer inovação: o momento em que a euforia cede lugar à realidade?
Como em outras tecnologias disruptivas, o metaverso parece estar atravessando a curva de adoção em que o foco sai do marketing e vai para a entrega de valor concreto, um caminho mais silencioso, porém mais sólido.
Entendendo o conceito de metaverso
O metaverso representa mais do que um universo virtual habitado por avatares. Ele é a convergência de diversas tecnologias, como realidade aumentada (AR), realidade virtual (VR), internet das coisas (IoT), blockchain e gêmeos digitais. Juntas, essas soluções permitem criar ambientes digitais interativos, persistentes e conectados ao mundo físico.
Em vez de um único lugar ou plataforma, o metaverso é um ecossistema de experiências e ferramentas que expandem a forma como vivemos, trabalhamos e nos relacionamos com dados. Seu potencial está justamente na capacidade de unir o digital ao real para gerar valor, não apenas entretenimento.
Onde o metaverso está funcionando hoje?
Apesar do declínio no interesse por ambientes virtuais sociais, o metaverso segue evoluindo. É no setor industrial que ele tem mostrado maior tração e resultados práticos.
Empresas como BMW, Amazon e Lowe’s já adotam tecnologias imersivas para simulações, prototipagem e treinamento, aproveitando a capacidade dos ambientes digitais de reduzir custos e aumentar a eficiência operacional.
Na Amazon, por exemplo, robôs de armazém são treinados em mundos virtuais antes de serem ativados no mundo físico, reduzindo riscos e acelerando a implantação. Já a BMW, em parceria com a NVIDIA, cria versões digitais completas de suas fábricas, os gêmeos digitais, que permitem testar mudanças e fluxos de trabalho antes da implementação real, economizando tempo, recursos e evitando falhas.
A arquitetura é outro setor em que o metaverso tem se mostrado valioso. Escritórios como o Zaha Hadid Architects utilizam plataformas colaborativas imersivas para projetar, revisar e tomar decisões com clientes e equipes localizadas em diferentes partes do mundo.
Nesses contextos, o metaverso não é um produto de consumo ou um universo alternativo: é uma ferramenta estratégica de produtividade, colaboração e simulação, integrada a fluxos de trabalho já existentes.
O metaverso como sala de aula 3D
Ambientes imersivos têm se mostrado eficazes para treinamentos corporativos e onboarding de novos colaboradores. Empresas de saúde, indústria e tecnologia usam simulações em realidade virtual para capacitarem funcionários de forma segura e engajante. As vantagens incluem aprendizado mais rápido, retenção de informação e redução de custos com espaço físico e deslocamento.
Se você quer saber mais sobre as possibilidades educacionais do metaverso, leia também o nosso artigo:
Metaverso e educação: novas possibilidades para o aprendizado na era digital
Marketing e varejo: não só produtos, experiência
As vitrines 3D, avatares customizáveis e lojas imersivas seguem em cena com objetivos mais estratégicos e realistas. Marcas como Nike, Gucci, Samsung, entre outras, continuam apostando em experiências no metaverso, mas com foco mais claro em engajamento, branding e relacionamento com novas gerações do que em vendas diretas.
Plataformas como Roblox, Fortnite e Decentraland viraram palco de ativações criativas, como o lançamento de sneakers digitais, coleções exclusivas para avatares e até desfiles virtuais. O que mudou foi a expectativa: o metaverso deixou de ser visto como um “novo shopping center” e passou a ser compreendido como um canal complementar de experiência e conexão emocional com o público, especialmente as gerações Z e Alpha.
Essas iniciativas buscam reforçar valores de marca, ampliar a presença em ecossistemas digitais e gerar buzz em redes sociais. O retorno não está na conversão imediata, mas na construção de marca em um novo território de atenção.
Hoje, o metaverso no varejo caminha como parte de uma estratégia omnichannel, em que a imersão fortalece a narrativa de marca e não substitui o e-commerce tradicional.
Planejando o mundo real com dados digitais
O metaverso pode parecer abstrato, mas, em setores como infraestrutura e engenharia, ele já está sendo aplicado de forma concreta. A tecnologia de gêmeos digitais (digital twins) transforma modelos 3D em réplicas virtuais dinâmicas de fábricas, edifícios, aeroportos, ferrovias e até cidades inteiras.
Esses ambientes simulados integram sensores conectados (IoT) e dados em tempo real para:
- Prever comportamentos físicos com alto grau de precisão.
- Testar diferentes cenários e estratégias.
- Melhorar decisões operacionais e de planejamento.
Na construção civil e na engenharia, os benefícios mais evidentes incluem:
- Antecipação de impactos: simulação do uso de diferentes materiais e estruturas antes da execução.
- Redução de desperdícios: planejamento mais eficiente de recursos e mão de obra.
- Visualização em campo: uso de realidade aumentada para projetar tubulações, estruturas ocultas e redes elétricas diretamente no canteiro, facilitando o trabalho das equipes técnicas.
Essa aplicação prática do metaverso tem um objetivo direto: aumentar a eficiência operacional e reduzir custos com base em simulações precisas e iterativas. Trata-se de uma evolução silenciosa, mas, essencial, que reposiciona o metaverso como uma ferramenta técnica e estratégica, muito além das promessas futuristas.
À medida que as cidades se tornam mais inteligentes e as indústrias automatizam seus processos, os gêmeos digitais — e com eles, o metaverso aplicado — tendem a assumir um papel central no planejamento urbano, gerenciamento de recursos e operação de infraestruturas críticas.
Tal evolução está moldando a forma como construímos, operamos e otimizamos o mundo físico por meio de dados digitais e insights preditivos.
Se quiser se aprofundar nesse tema, vale a leitura do nosso artigo:
Cidades Inteligentes no Brasil: avanços, desafios e oportunidades reais
O que as empresas podem (e devem) explorar agora
Para a maioria das organizações, a pergunta não deve ser “como entrar no metaverso?”, mas sim “quais elementos do metaverso fazem sentido para o meu negócio hoje?”. Em vez de tratar o metaverso como um destino final, a oportunidade está em adotar tecnologias imersivas e dados tridimensionais para resolver desafios reais, com foco em eficiência, engajamento e inovação.
Isso pode incluir:
- Ambientes virtuais para treinamentos e onboarding.
- Gêmeos digitais para planejamento, manutenção e simulações.
- Campanhas interativas em plataformas como Roblox, Fortnite ou Zepeto.
- Realidade aumentada integrada a operações, marketing ou atendimento ao cliente.
Adotar essa abordagem exige uma mentalidade iterativa: testar, medir, aprender e ajustar. E, acima de tudo, envolver equipes multidisciplinares, unindo tecnologia, design, operações e estratégia, para garantir que cada aplicação seja relevante, funcional e alinhada aos objetivos do negócio.
O metaverso está vivo, mas bem diferente do que prometeram
A ideia de um universo digital paralelo, povoado por avatares em mundos abertos e sociais, ainda está distante — e talvez nunca se concretize da forma como foi vendida.
No entanto, o metaverso, enquanto conjunto de tecnologias imersivas e interativas, já está em uso nas empresas que buscam eficiência, inovação e novas formas de interação.
O que vemos é uma transição: da promessa futurista à aplicação concreta. Cabe às lideranças adotarem uma visão pragmática, avaliarem onde essas tecnologias fazem sentido e avançarem com testes, integração e aprendizagem contínua.
O futuro do metaverso não será um salto disruptivo, mas uma evolução gradual e, para muitos setores, ela já está em andamento.