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Terceiro Setor

Como a tecnologia está transformando o terceiro setor: inovação, impacto e eficiência para ONGs

Ferramentas digitais ajudam organizações a superarem desafios, ampliarem o alcance e potencializarem resultados sociais

Postado em 12/06/2025

Leonardo Fróes

O terceiro setor exerce um papel fundamental no fortalecimento da cidadania, na redução das desigualdades e na promoção de direitos sociais. ONGs, institutos e fundações atuam em áreas onde, muitas vezes, o poder público não consegue alcançar com a mesma agilidade ou capilaridade. Mas, qual é o papel das ONGs na era digital? Como elas podem ampliar seu impacto social com o uso estratégico da tecnologia?

Com o avanço das soluções digitais, o terceiro setor encontra hoje ferramentas poderosas para otimizar processos, expandir o alcance de suas ações e potencializar resultados. Do armazenamento em nuvem à inteligência artificial generativa, a tecnologia tem se tornado uma grande aliada das organizações sociais. 

Neste artigo, você conhecerá o papel e os desafios do terceiro setor, o panorama atual das tecnologias aplicadas a causas sociais e como a combinação desses dois universos pode gerar impacto real, mensurável e sustentável.

Importância do terceiro setor para a sociedade

Muito se fala sobre o papel das ONGs e das entidades sem fins lucrativos, mas para compreender sua real importância, é preciso olhar para o contexto em que elas atuam. O terceiro setor é parte ativa da engrenagem social, atuando onde, muitas vezes, o poder público não consegue chegar.

São consideradas entidades do terceiro setor: ONGs, fundações, institutos e associações que se dedicam a causas como educação, saúde, cultura, meio ambiente, inclusão social e direitos humanos. São organizações privadas, mas de interesse público, que não visam lucro, e sim a transformação social por meio de projetos e ações sustentáveis. Essas organizações, muitas vezes, ocupam espaços estratégicos, complementando ou até mesmo suprindo ações governamentais. Isso inclui:

  • Atendimento a populações vulneráveis.
  • Desenvolvimento de programas comunitários.
  • Formação de redes de apoio e assistência.
  • Defesa de direitos civis e humanos.
  • Fomento à inovação social e cultural.
  • Disponibilização de acesso a serviços, tecnologias e oportunidades.

Inovação social como fator de transformação

Uma das contribuições mais estratégicas do terceiro setor está na sua capacidade de criar, testar e validar soluções sociais inovadoras. Organizações da sociedade civil costumam operar mais próximas das realidades locais e dos públicos que atendem, o que proporciona uma compreensão mais precisa dos desafios enfrentados por determinadas comunidades.

Essa proximidade permite a experimentação de metodologias alternativas, que muitas vezes não encontrariam espaço em estruturas públicas mais rígidas ou em modelos corporativos orientados pelo retorno financeiro. Em vez disso, o foco está na eficiência social, na ampliação do impacto e na resolução de problemas complexos de forma contextualizada.

A inovação no terceiro setor também se manifesta na forma como essas organizações utilizam dados, tecnologias e metodologias participativas para desenvolver soluções com alto grau de aderência social. Projetos bem-sucedidos, mesmo em pequena escala, acabam se tornando referência e inspiram políticas públicas ou iniciativas privadas em outros contextos.

Desafios do terceiro setor em um cenário digital

As organizações do terceiro setor enfrentam obstáculos concretos para manter, ampliar e dar sustentabilidade às suas ações. Especialmente em um mundo que demanda, cada vez mais, fluência digital. Entre os mais recorrentes e atuais, estão:

  • Captação de recursos: uma das maiores dificuldades enfrentadas por ONGs, institutos e fundações. Doações, editais, incentivos fiscais e parcerias com empresas são fontes vitais, mas que muitas vezes não garantem estabilidade financeira a médio e a longo prazo.
  • Disputa pela atenção do público: tanto para engajamento quanto para apoio, exige comunicação clara, consistente e orientada por dados, algo difícil de alcançar com estruturas enxutas e múltiplas frentes de atuação.
  • Coleta e armazenamento de dados sensíveis: com o aumento da importância dos dados para a mensuração de impacto e planejamento estratégico, a coleta, o armazenamento e a interpretação de informações tornaram-se aspectos centrais da gestão social, especialmente quando o público atendido está em situação de vulnerabilidade.

Mesmo com metodologias consistentes e resultados comprovados, muitas iniciativas do terceiro setor não conseguem se expandir ou ser replicadas em outros contextos. A falta de recursos, visibilidade e articulação com redes maiores compromete o alcance e a continuidade dessas ações.

Esses desafios criam um cenário em que o potencial de transformação social é muitas vezes limitado por barreiras estruturais.

Tecnologia e inteligência artificial como aliadas

A adoção tecnológica no terceiro setor precisa ser tão intencional quanto técnica: sempre centrada nas pessoas e nos princípios que movem essas instituições.

Inteligência artificial, soluções em nuvem, análises preditivas e ferramentas de automação low-code vêm ganhando espaço, ampliando a capacidade de organizações sociais operarem com mais eficiência, segurança e escala, mesmo com equipes enxutas e recursos limitados.

A presença da IA nesse cenário representa uma evolução significativa. Com ela, surgem novas formas de atuação mais estratégica, orientada por dados e adaptada às necessidades específicas de cada público atendido.

Entre as aplicações mais promissoras, a inteligência artificial generativa vem se destacando. Seu verdadeiro potencial está em suportar decisões estratégicas, gerar conhecimento acessível a diferentes perfis de público, construir narrativas relevantes a partir de dados reais e acelerar processos de inovação dentro das próprias instituições.

Plataformas digitais para ampliar o acesso à educação

A CodeBit vem contribuindo com projetos que demonstram, na prática, como a tecnologia pode transformar o acesso à informação e à educação. Um bom exemplo é o trabalho desenvolvido com o Polo Itaú, uma iniciativa do Itaú Social voltada à formação de educadores.

Com o crescimento da base de usuários, que chegou a 110 mil pessoas, identificou-se a necessidade de uma experiência mais fluida e orientada. A CodeBit redesenhou o ambiente, criando uma trilha de conhecimento organizada por percursos temáticos, com cursos agrupados de forma lógica e integrados a materiais complementares. A nova interface interativa, aliada a um hotsite responsivo, tornou o conteúdo mais acessível e facilitou a jornada de aprendizado.

Soluções acessíveis e escaláveis em nuvem

Outro projeto emblemático é o da Fundação Dorina Nowill, que atua pela inclusão de pessoas com deficiência visual. A missão era clara: escalar a transcrição e adaptação de livros para o formato braille. A CodeBit desenvolveu uma plataforma baseada em nuvem, capaz de linearizar conteúdos complexos e automatizar etapas do processo.

A velocidade de conversão aumentou de 30 para 90 páginas por dia, triplicando a produtividade e ampliando o acesso à literatura para o público atendido pela fundação. Casos como esse mostram como tecnologias acessíveis e escaláveis podem gerar impacto direto na vida das pessoas.

O impacto da experiência do usuário

A tecnologia no terceiro setor deve ser pensada como um meio e não um fim. O que realmente diferencia iniciativas bem-sucedidas é o quanto elas conseguem alinhar recursos tecnológicos aos contextos reais das pessoas atendidas.

Personalizar a experiência do usuário significa, acima de tudo, respeitar a diversidade de trajetórias, capacidades e necessidades. Isso se traduz em soluções desenhadas com empatia, simplicidade e funcionalidade.

Entre os recursos que podem tornar essa experiência mais acessível e eficaz estão:

  • Percursos educacionais personalizados, com conteúdos adaptados ao nível de conhecimento e ao contexto cultural do público.
  • Interfaces acessíveis, que considerem desde a usabilidade em dispositivos móveis até recursos para pessoas com deficiência.
  • Fluxos automatizados de atendimento, que ajudem a orientar, informar ou engajar o usuário de forma contínua e humanizada.
  • Formulários e cadastros simplificados, que não excluam quem tem baixo letramento digital ou acesso limitado à internet.
  • Feedbacks imediatos e claros, que empoderem o usuário na jornada dentro da plataforma ou serviço.

É preciso desenvolver com o público. A escuta ativa, a cocriação e os testes são ferramentas valiosas para garantir que cada solução, por menor que pareça, faça sentido para quem mais precisa dela.

Pensando no futuro: ética, colaboração e impacto

O futuro do terceiro setor pode ser moldado pela adoção de novas tecnologias, mas também pela forma como essas tecnologias são implementadas, com propósito, responsabilidade e senso coletivo.

Inovar com ética é o primeiro passo. Isso significa garantir que o uso de dados, a automação de processos e a inteligência artificial estejam alinhados com os princípios fundamentais do setor: proteção de direitos, inclusão e equidade. Tecnologias que não respeitam esses valores correm o risco de reforçar desigualdades em vez de corrigi-las.

Ao mesmo tempo, a colaboração entre ONGs, empresas de tecnologia, universidades e financiadores desponta como estratégia essencial para avançar de forma consistente. Nenhum ator, sozinho, dará conta dos desafios sociais mais complexos. 

No Brasil, a inteligência artificial ainda está em fase de amadurecimento em várias frentes, especialmente quando aplicada a causas sociais. Mas mesmo nesse cenário, já é possível enxergar um grande potencial de transformação, desde que a tecnologia seja guiada pela escuta ativa das comunidades, pela mensuração do impacto real e pela gestão transparente.

Em vez de soluções genéricas, o terceiro setor precisa de tecnologia com identidade social, sensível às causas, comprometida com resultados concretos e capaz de evoluir junto com os desafios da sociedade.

Esse é o caminho para um impacto duradouro e, sobretudo, humano.